quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Ninguém se salva.

A casa era bonita, eu lembro d'ela ser bem grande e com vários cantos em que eu me escondia e brincava bastante. Não me lembro se eu tomava banho de piscina, mas lembro muito bem quando todos os filhotes da minha cadela morreram afogados nela. A casinha dela ficava ao lado, era uma cadela negra, grande e brincalhona, sei lá a raça, mas era linda; os filhotes dela devem ter nascido à noite e andado cegos através das grades caindo diretamente na piscina, é difícil apagar da mente aqueles pontinhos pretos boiando na minha frente. Certas coisas a gente nunca é pequena demais para esquecer.
Eu pegava o banquinho e lavava a louça para minha mãe, ou pelo menos tentava. Eu imaginava na minha cabeçinha que eu seria muito rica e famosa, uma modelo e levaria ela para viajar comigo, mal sabia eu...
Foi nessa casa que aconteceram dois fatos: minha primeira experiência homossexual e o abuso. Oh! você ficou impressionado? é, experiência homossexual na infância é assustador, não? rsrs. Pois é, ela era minha vizinha, não sei se era linda, não me lembro do seu rosto, mas sei que eramos muito pequenas, tipo uns 4/5 anos. Sempre tem uma vizinha, não é mesmo?rsrs. Nós brincavamos juntas e nossas mães eram amigas. Eu me recordo dela em cima de mim, tocando aquele lugarzinho especial, deitadas na inocência de um colchão furado, e eu como sempre, na passiva. Elas entraram, provavelmente minha mãe indo me chamar para irmos para casa, e ai foi aquele escândalo, só sei que nunca mais nós pudemos brincar, com brinquedos de crianças, seu safado. Hoje eu paro e penso, será que alguém fazia aquilo com ela? me dói pensar que sim, talvez mais frequentemente do que eu posso um dia imaginar.
Ah, o abuso, você quer saber dele não é?eu mesma fico assustada com a tranquilidade com que penso nisso, afinal, só me atingiu um pouquinho, e mudou só tudo na minha vida, nada demais. Havia sempre muitos homens circulando pela minha casa, os amigos de meu irmão, e o que eu acho que eram os peões mais chegados da minha mãe. Eles nem ligavam para mim, mas desde pequena eu queria me fazer percebida, eu era uma gracinha, loira, braquinha, com boca de boneca e olhos tão castanhos quanto uma bala de avelã, eu cantava para eles, desfilava e queria atenção. Tinha um "tio" que era legal, ele devia ser o mais chegado mesmo, um senhor branco, magro com aquele cheiro de mato molhado e cigarro barato, pois eu convivi muito com ele, talvez por isso eu me lembre um pouco mais de suas feições; lembro até hoje que ele me ensinou a desenhar o símbolo do infinito, e adicionar mais infinitos ao mesmo desenho, em uma linha contínua. Mas esse cara era legal, como eu disse, talvez não tanto assim, mas isso é mais para frente. O outro, aquele idiota, era como a noite e grande como só ela sabe ser, ele não me dava trela, não me lembro de outros momentos com ele, apesar de eu achar que esse momento foi tão marcante que eu possa ter aniquilado todos os outros. Ele não me pegou à força, não, eu era exibida, queria agradar, e foi isso que eu fiz. Só me lembro dessa visão: os azulejos marrons e velho da parede do banheiro, eu ajoelhada, obediente, e ele com aquele pau escuro na minha cara dizendo "- Chupa tudo até sair leitinho, pra você crescer e ficar fortinha." Eu não sabia o que era aquilo, só sei que fazia ele feliz, eu estava agradando outra pessoa, de uma forma alternativa, mas eu não ligava. Eu o odeio por isso, não desejo que ele morra, não, só que tenha uma grave contusão, mas se ele fez isso com mais alguém, ai espero que o pau dele tenha sido mordido e arrancado por um cachorro. Como alguém pode abusar da inocência de uma criança dessa forma? é como usar a bondade para o mal, isso não se faz...Pois é, isso desencadeou uma série de distúrbios sexuais, mais isso foi só mais tarde. Eu não lembro, mas talvez por ele ter dito para eu não contar para a minha mãe, e ser o nosso segredinho, eu tenha achado normal, gostado do mal, por assim dizer, são fatos, você não sabe o quanto te faz mal até conhecer o que de fato você faz, e eu não conhecia.
Sinceramente, eu não sei o que deu em mim depois, é estranho não? uma criança gostar do mal, tá que eu era uma criança fora do normal, sabia coisas demais, em tempo curto demais, eu não era idiota, só me fingia, até hoje faço isso, é mais fácil quando as outras pessoas pensam que você é estúpida, o baque é maior. Como você pode ver, eu tenho um gostinho pelo mal, talvez por isso eu sempre tenha tentando ser muito boa, para compensar as coisas ruins que eu gostava de fazer. O que obviamente não presta, sempre me fascinou muito.

As lembranças se embaralham, mas eu vou por partes, não se preocupe, mirror, por tanto tempo eu não quis organizar isso em minha mente, e só deixava passar, sem ter vontade de analisar e juntar tudo de uma vez só, mas serei bem direta.

As coisas ficaram "normais" até a gente mudar de cidade, e ficar pobre. Pobre, não é ruim, veja bem, nesses casos ninguém se salva. Mas como sempre está tarde, meus posts são curtinhos, mas é que eu fico com tanto sono...como sempre a luxúria tem que vir junto com a preguiça.

Até logo meu querido mirror.

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