domingo, 10 de janeiro de 2010

Capins e suor


Nós viajavamos muito. Eu não tenho certeza se isso era antes ou no momento em que morávamos naquela casa, mas lembro que eu era bem pequena. Sei que nós viajavamos, as estradas eram aquelas, do cerrado, cheias de árvores tortas, aqueles campos lisos com vaquinhas ora secas, ora gordas demais. Tudo muito quente e cheirando à mato queimado. Nós íamos a fazendas, cidades do interior, visitávamos gente do campo, com seus cheiros de cigarro e suor. Uma vez nós viajamos e eu não sei porque eu tive que lavar minha calcina e colocar atrás da geladeira de uma senhora, e eu fui para a sala e fiquei vendo TV, sem calcinha, lembro de um homem ficar olhando muito pra mim...minha mãe ficou muito brava e me tirou da sala. Os homens tinham muita atração por mim antigamente, hoje não é uma coisa fora do comum, até porque eu sou uma jovem de 19 anos, ai faz mais sentido, mas eles eram homens de 30 anos para cima, secando uma menininha de 5. Como sempre, as fazendas. Em uma, mas essa era nossa, meu irmão mais velho ficava lá com a gente, eu me lembro de duas passagens. Eu brincava muito com os filhos da empregada, nós escondíamos as colheres da cozinha, enterravamos elas, e tinha um senhor que contáva histórias para nós. Ele era bem velho, e tinha uma camionete azul, bem velha. Uma vez ele pediu para eu abrir minhas pernas e tirar minha calcinha para ele. Eu o havia procurado, para uma história, pois eu estava sozinha, a empregada tinha levado os filhos para fazer alguma coisa, ver o pai eu acho, e ele me pediu isso. Ele me tocou lá, mas eu nem senti nada. Outras vezes, ele me chamava para os fundos, onde haviam muitas árvores, e me mostrava o pau, pedia para eu tocá-lo ou sentar em seu colo, enquanto me contava histórias e me dizia o quanto eu era bela e obediente. Ele arfava ao pegar em minha pequena preciosidade, e para mim, isso já era sinônimo de prazer.

Eu já estava na maldade, já sabia manipular e me divertir com o sofrer alheio. Um rapaz, muito mais jovem do que o tal senhor, sempre me levava para andar à cavalo, ver ele ordenhar as vacas, e me fazia perguntas estranhas, que eu nem respondia. Um belo dia, ele me levou para um matagal, bem grande e escondido, pediu para eu abrir minhas pernas e disse que se doesse muito, eu não precisava gritar, só pedir para ele para, porque ia ser muito bom depois. Eu estava lá, deitada com as pernas abertas, onde ele tirava minhas calças e colocava aquela coisa dura em mim, doeu, muito, mas eu pedi segurando o grito para ele parar. Não entrou, não sangrou, mas doeu muito, ou "pra caralho" (melhorando a intensidade haha).

Eu o intimidava depois, lembro-me de estar enconstada na cerca, dizendo à ele que iria contar para a minha mãe, e ele, de joelhos implorando que não, dizendo que iria me dar tudo que eu quisesse, fazer o que eu quisesse. Ai, o gosto do horror em seus olhos! Como uma criança pode sentir prazer com isso? Polimorfo perverso, diria Freud, ou talvez a incorporação do mesmo, eu deveria sorrir quando eu dormia, e minha mãe devia achar lindo Lilith brincar comigo em meus sonhos.

Sim, fico horrorizada com as coisas que eu pensava, a sociedade ainda não tinha me atingido,rs. Nessa época, isso é tudo que eu me lembro, pelo menos dessa etapa de viagens e fazendas.

Quando nós ficamos pobres, as coisas não mudaram muito, mas eu comecei a ficar pior, cada vez mais interessada naquilo, ver a reação dos homens, me interessar pelo sexo, sem ao menos saber que era sexo. Me sinto culpada em olhar para trás e não ver que eu poderia ter chorado, poderia ter saído correndo nas investidas com medo, como uma criança normal, mas não, eu ficava e aproveitava até o final. Hoje me sinto mal com isso e minha sexualidade não é a mesma. E o espelho que me encara agora não abre luzes, apenas fecha as portas e muda tudo de lugar, me deixando na confusão...Eu cuidava dela, e cuidava de mim, mas do jeito errado, pelo visto.

Ah, agora chega.

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