domingo, 9 de janeiro de 2011

Uma linda lembrança, de um lindo momento

Ter lembranças é bom, a gente aprende com a vida, mas para tê-las em algum momento precisamos tê-las vivido. Hoje vou contar sobre a que estou tendo no momento. Não sei se já comentei, mas sou lésbica. Sim, mas estou trabalhando neste post ainda, que vai ser imenso, rsrs. Mas hoje o assunto não é sobre sexualidade, é sobre algo mais abstrato que isso, é um sentimento. Como uma pessoa me disse, a pessoa a quem dedico esse post, o sentimento é algo abstrato, que explode em cores. A conheço a menos de uma semana e ela já faz parte do meu mundo, do meu pensamento, da minha rotina. Não sei se é eterno, mas será enquanto durar, pode ser até amanhã, pode ser até quando só Deus sabe, mas eu não me importo, eu fico feliz, muito feliz, pois cada pessoa que passa na nossa vida, nós devemos lembrar dela, pois ela adiciona algo em nós, ela insere as experiências dela na nossa vida e jamais devemos esquecer disso, é algo incrível a troca de vidas, é único, e ela é única. Ela explode em cores, sabores e feições, é como se a alma dela brilhasse e ela não fizesse parte desse mundo, eu não sei explicar, essas coisas a gente não explica. O beijo dela é doce, os lábios dela são macios e cheios, o corpo dela é lindo, no abraço dela, ela pulsa, pulsa em mim, pulsa em tudo, é cheia de vida, de calor, e eu não sei como agir, fico estática, tenho vontade de colocar no colo e fazer bem a essa pessoa, que de uma hora pra outra ficou tão importante pra mim. Essa é para o cubinho mais lindo que eu já conheci, dedico a você, que, talvez eu não faça parte da sua vida para sempre, mas espero muito ser pelo menos uma linda lembrança, de um lindo momento.

Você é assim
Um sonho pra mim
E quando eu não te vejo
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito...

Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo
É o meu amor...

E a gente canta
E a gente dança
E a gente não se cansa
De ser criança
A gente brinca
Na nossa velha infância...

Seus olhos meu clarão
Me guiam dentro da escuridão
Seus pés me abrem o caminho
Eu sigo e nunca me sinto só...

Você é assim
Um sonho pra mim
Quero te encher de beijos
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito...

Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo
É o meu amor...

E a gente canta
E a gente dança
E a gente não se cansa
De ser criança
A gente brinca
Na nossa velha infância...

Seus olhos meu clarão
Me guiam dentro da escuridão
Seus pés me abrem o caminho
Eu sigo e nunca me sinto só...

Você é assim
Um sonho pra mim
Você é assim...
Você é assim...
Você é assim...

-"Você é assim
Um sonho pra mim
E quando eu não te vejo
Penso em você
Desde o amanhecer
Até quando me deito
Eu gosto de você
Eu gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo
É o meu amor"

Tribalistas - Velha Infância

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Eu te amo, e não só porquê é Natal ;)

Véspera de Natal, doces, comida, presentes, farinha. Hoje eu mexi com farinha, toquei ela,fazia tempo que eu não tocava uma coisa e sentia ela, sabe, sentir, na ponta dos dedos, macia... Farinha me faz lembrar de uma tia minha, tia Ivone, ela na verdade não era filha da minha avó, não no sentido sanguíneo da coisa, não sei muito bem o que se sucedeu, mas ela foi morar com a minha vó quando era bem pequenininha, e o irmão gêmeo nunca se separou dela, mas não morava na casa dos meus avós. Ela era negra, digo era porque não faz bem um mês que ela faleceu, e digo negra porquê venho de uma família alemã onde todo mundo é branco de olhos e cabelos claros, ou apenas BEM brancos, hehe.

Mas continuando, tia Ivone era especial, as pessoas não davam muito crédito para ela, porque ela falava demais, mas eu amava isso, pois era por ela que eu sabia das coisas de antes de mim, de como minha família vivia, das ocasiões, das festas, das birras das crianças, que ela cuidara de todos os filhos da minha mãe, e dos meus tios, eu amava quando ela começava a falar, às vezes eram as mesmas histórias, mas eu não ligava, ficava a imaginar tudo que ela falava e aquilo para mim era como beber memórias.

Ivone era pobre, suas filhas ainda o são, e pelo que eu soube dos outros, pois ela tinha a grande capacidade de lembrar todas as datas, de tudo, dos outros, e não mencionava quase nada sobre ela, tirando suas doenças e exames, ela sofreu muito na vida, mas sempre foi uma pessoa firme, de opinião.

Ela era baixinha, mancava um pouco para o lado direito, tinha os cabelos bem crespos com rajadas de branco por todo ele, lembro de seu rosto marcado, sua pele às vezes mais escura em um ponto, por queimadura de fornos ou ferro de passar roupa, seu pulso era fino, suas mãos pequenas e gorduchas, ela não era gorda, não, era aquele tipo de senhora que tem suas gordurinhas acumuladas da vida, de duas gestações grandes, mas não era gorda, tinha os olhos tão escuros quanto os de um bicho, com auréolas azuis claras em volta dos olhos, característica das suas cataratas.

Ivone entrava no meu quarto e sempre ficava lá olhando minhas coisas, perguntando como eu estava, e me dando paninhos de presente, sempre que podia. Eu deveria ter ido mais lá. Deveria ter ido mais ao piso abaixo da minha casa vê-la passar a roupa, e conversar mais com ela. Eu deveria ter dito que a amava.

Eu gostava quando a gente ia fazer rosquinha. Limpávamos a pia, estendíamos a massa amarela e enchíamos a mão de farinha, e eu ficava lá, bebendo de suas memórias, ouvindo ela falar de como eu era chata e que não gostava de pentear o cabelo, mas que ficava lindo depois de todo o esforço dela, enrolando as rosquinhas gordinhas na forma, acho que ela também gostava de fazer isso.

Sinto saudades dela, mas é uma saudade boa sabe? Daquela que você aceita que a pessoa se foi, do jeito que ela tava, inchada, com úlceras em regiões de ficar muito tempo sentada, sem lembrar das pessoas, não é um alívio, mas é a felicidade de saber que ela se foi quando foi preciso e que não sofreu por um tempo longo. Só queria dizer que eu lembro dela e enquanto alguém se lembra da gente, isso significa que nós não morremos.

Eu só queria nesse post, post pré-natal, fazer o que a gente realmente deve fazer no Natal, lembrar das pessoas não pensando em qual presente devemos dar, mas, lembrar como foi bom ter pessoas como ela na minha vida, onde a gente se entendia no meio da farinha, onde não era preciso dizer mais nada do que apensa um sorriso. Como é bom ter pessoas na minha vida, quando muita gente não tem ninguém, posso dizer que sou abençoada, pois creio eu ter as melhores pessoas do mundo ao meu lado, e muita gente que me ama e que, acho que o mais importante, que eu sinto isso de verdade.

O ser humano é um ser tão social, que nós agimos da maneira que os outros afetam ou afetaram nossa vida, talvez por isso, por ela, e por tantas outras pessoas, eu não seja tão alienada e consiga ser mais compreensiva com as coisas....só queria agradecer, a Deus, sim eu acredito nele, muito, e a todas as pessoas que ele colocou na minha vida, que me afetam de todas as formas possíveis...mas bem...e só um agradecimento, não há mais nada a dizer.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Só pensando

Quanto tempo heim, a gente acaba esquecendo de pensar na vida que passou e só vive essa do momento, não que isso seja ruim, afinal viver de passado é triste, mas essa semana, onde eu voltei de uma viagem muito produtiva, em uma cidade onde prestamos assistência à uma comunidade carente eu pensei muito na vida. Lembrei de muitas coisas e tentei gravar o máximo novas experiências, no final tudo que a gente leva na vida é aquilo que a gente lembra não é mesmo? queria poder colocar tudo em um quadro.
O lugar que eu fui era bem rural, me fez lembrar de um episódio onde um moço da fazenda me levou até uma árvore, bom no meio do mato, eu não lembro o seu rosto, a cor de sua blusa, só lembro de suas unhas meio sujas, seu cheiro de mato, e ele me colocando em cima do banco, que ficava na sombra, e conversando comigo. Ele não tentou nada, ele me deu uma pequena aranha e disse "olha, essa é pequena, não faz mal, é só ter cuidado e não amassar ela" era uma aranha pequena, amarelinha, que andava devagar em minhas mão. O céu era azul e a tensão tinha ido embora, a tensão de que talvez ele fosse fazer algo, mas não, ele disse que na vida a gente aprende, mas eu não entendi, e agora eu entendo, que tudo que nós tivermos cuidado, e não apertarmos as coisas e pessoas ao nosso redor, a vida é mais fácil, a gente aprende a lidar com o medo e diferenças. Talvez tenha sido com ele que eu aprendi a perceber que nem todos os homens são iguais.
Esse fato me remete a algo muito romântico, um dia bonito, sem barulho, com cheiro de capim bonito, onde um homem e uma criança trocavam confidências silenciosas, e ele a respeitava, assim como eu o respeitei. Queria agradecer a ser cara, que eu não faço idéia de quem seja, a me mostrar o lado bonito de um mero gesto.
Talvez não signifique nada para você, mas eu adoro um silêncio, aquele que diz tudo sabe? onde duas pessoas se unem em pensamento e sentem no lugar mais seguro do mundo, é onde no borbulhão de palavras a gente diz só uma, e não precisa de mais nada.
Lá na cidade onde eu fui, uma criança me abraçou, me apertou forte e eu olhei nos olhos dela e senti que ela não queria que eu fosse embora, talvez daqui uns tempos ela esteja fazendo o mesmo agradecimento que eu, por ter tido alguém que um dia, simplesmente a olhou, e levou ela pra um lugar mais seguro, cheio de silêncio e conforto, de forma diferentes, nós partilhamos o mesmo sentimento.
Depois da fazendo eu e minha mãe ficamos em uma cidade, Paranatinga, onde eu vivi com meus irmãos mais velhos, era divertido, eu tinha muitos amiguinhos e brincava na terra, era bom e não houve mais assédios, não quero mais lembrar dos assédios, acho que já estou farta de relembrar disso, até porque depois desses episódios, não me aconteceu mais nada em especial, além dos tarados de sempre.

Eu fui morar em Campo Grande com a minha mãe, quando minha avó faleceu, e eu fui para a escola e a vida ficou boa, pulei uma grande parte da minha vida, até chegar nessa que lhe conto, mas não me importo, afinal não há nada de interessante a relembrar. Eu vivi como criança, eu cantei, eu corri, eu fui pra catequese, eu chupei gelinho e fui na casa da minha amiga fazer tarefa de caligrafia, nós brincávamos de modelo e não pensávamos em mais nada. Quem diz hoje que dinheiro não traz felicidade, pode estar certo, eu fui pobre, porém fui muito mais feliz. Foi onde eu conheci minha melhor amiga, a Jack, meu braço direito, ela me deu a pulseira da mãe dela e que guardei até hoje. Nunca vou me esquecer dela, por mais que hoje nós não tenhamos mais tanto contato, afinal crescemos e já não estamos mais juntas. Mas a criança que ela foi junto comigo eu não vou esquecer jamais.


domingo, 10 de janeiro de 2010

Capins e suor


Nós viajavamos muito. Eu não tenho certeza se isso era antes ou no momento em que morávamos naquela casa, mas lembro que eu era bem pequena. Sei que nós viajavamos, as estradas eram aquelas, do cerrado, cheias de árvores tortas, aqueles campos lisos com vaquinhas ora secas, ora gordas demais. Tudo muito quente e cheirando à mato queimado. Nós íamos a fazendas, cidades do interior, visitávamos gente do campo, com seus cheiros de cigarro e suor. Uma vez nós viajamos e eu não sei porque eu tive que lavar minha calcina e colocar atrás da geladeira de uma senhora, e eu fui para a sala e fiquei vendo TV, sem calcinha, lembro de um homem ficar olhando muito pra mim...minha mãe ficou muito brava e me tirou da sala. Os homens tinham muita atração por mim antigamente, hoje não é uma coisa fora do comum, até porque eu sou uma jovem de 19 anos, ai faz mais sentido, mas eles eram homens de 30 anos para cima, secando uma menininha de 5. Como sempre, as fazendas. Em uma, mas essa era nossa, meu irmão mais velho ficava lá com a gente, eu me lembro de duas passagens. Eu brincava muito com os filhos da empregada, nós escondíamos as colheres da cozinha, enterravamos elas, e tinha um senhor que contáva histórias para nós. Ele era bem velho, e tinha uma camionete azul, bem velha. Uma vez ele pediu para eu abrir minhas pernas e tirar minha calcinha para ele. Eu o havia procurado, para uma história, pois eu estava sozinha, a empregada tinha levado os filhos para fazer alguma coisa, ver o pai eu acho, e ele me pediu isso. Ele me tocou lá, mas eu nem senti nada. Outras vezes, ele me chamava para os fundos, onde haviam muitas árvores, e me mostrava o pau, pedia para eu tocá-lo ou sentar em seu colo, enquanto me contava histórias e me dizia o quanto eu era bela e obediente. Ele arfava ao pegar em minha pequena preciosidade, e para mim, isso já era sinônimo de prazer.

Eu já estava na maldade, já sabia manipular e me divertir com o sofrer alheio. Um rapaz, muito mais jovem do que o tal senhor, sempre me levava para andar à cavalo, ver ele ordenhar as vacas, e me fazia perguntas estranhas, que eu nem respondia. Um belo dia, ele me levou para um matagal, bem grande e escondido, pediu para eu abrir minhas pernas e disse que se doesse muito, eu não precisava gritar, só pedir para ele para, porque ia ser muito bom depois. Eu estava lá, deitada com as pernas abertas, onde ele tirava minhas calças e colocava aquela coisa dura em mim, doeu, muito, mas eu pedi segurando o grito para ele parar. Não entrou, não sangrou, mas doeu muito, ou "pra caralho" (melhorando a intensidade haha).

Eu o intimidava depois, lembro-me de estar enconstada na cerca, dizendo à ele que iria contar para a minha mãe, e ele, de joelhos implorando que não, dizendo que iria me dar tudo que eu quisesse, fazer o que eu quisesse. Ai, o gosto do horror em seus olhos! Como uma criança pode sentir prazer com isso? Polimorfo perverso, diria Freud, ou talvez a incorporação do mesmo, eu deveria sorrir quando eu dormia, e minha mãe devia achar lindo Lilith brincar comigo em meus sonhos.

Sim, fico horrorizada com as coisas que eu pensava, a sociedade ainda não tinha me atingido,rs. Nessa época, isso é tudo que eu me lembro, pelo menos dessa etapa de viagens e fazendas.

Quando nós ficamos pobres, as coisas não mudaram muito, mas eu comecei a ficar pior, cada vez mais interessada naquilo, ver a reação dos homens, me interessar pelo sexo, sem ao menos saber que era sexo. Me sinto culpada em olhar para trás e não ver que eu poderia ter chorado, poderia ter saído correndo nas investidas com medo, como uma criança normal, mas não, eu ficava e aproveitava até o final. Hoje me sinto mal com isso e minha sexualidade não é a mesma. E o espelho que me encara agora não abre luzes, apenas fecha as portas e muda tudo de lugar, me deixando na confusão...Eu cuidava dela, e cuidava de mim, mas do jeito errado, pelo visto.

Ah, agora chega.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Ninguém se salva.

A casa era bonita, eu lembro d'ela ser bem grande e com vários cantos em que eu me escondia e brincava bastante. Não me lembro se eu tomava banho de piscina, mas lembro muito bem quando todos os filhotes da minha cadela morreram afogados nela. A casinha dela ficava ao lado, era uma cadela negra, grande e brincalhona, sei lá a raça, mas era linda; os filhotes dela devem ter nascido à noite e andado cegos através das grades caindo diretamente na piscina, é difícil apagar da mente aqueles pontinhos pretos boiando na minha frente. Certas coisas a gente nunca é pequena demais para esquecer.
Eu pegava o banquinho e lavava a louça para minha mãe, ou pelo menos tentava. Eu imaginava na minha cabeçinha que eu seria muito rica e famosa, uma modelo e levaria ela para viajar comigo, mal sabia eu...
Foi nessa casa que aconteceram dois fatos: minha primeira experiência homossexual e o abuso. Oh! você ficou impressionado? é, experiência homossexual na infância é assustador, não? rsrs. Pois é, ela era minha vizinha, não sei se era linda, não me lembro do seu rosto, mas sei que eramos muito pequenas, tipo uns 4/5 anos. Sempre tem uma vizinha, não é mesmo?rsrs. Nós brincavamos juntas e nossas mães eram amigas. Eu me recordo dela em cima de mim, tocando aquele lugarzinho especial, deitadas na inocência de um colchão furado, e eu como sempre, na passiva. Elas entraram, provavelmente minha mãe indo me chamar para irmos para casa, e ai foi aquele escândalo, só sei que nunca mais nós pudemos brincar, com brinquedos de crianças, seu safado. Hoje eu paro e penso, será que alguém fazia aquilo com ela? me dói pensar que sim, talvez mais frequentemente do que eu posso um dia imaginar.
Ah, o abuso, você quer saber dele não é?eu mesma fico assustada com a tranquilidade com que penso nisso, afinal, só me atingiu um pouquinho, e mudou só tudo na minha vida, nada demais. Havia sempre muitos homens circulando pela minha casa, os amigos de meu irmão, e o que eu acho que eram os peões mais chegados da minha mãe. Eles nem ligavam para mim, mas desde pequena eu queria me fazer percebida, eu era uma gracinha, loira, braquinha, com boca de boneca e olhos tão castanhos quanto uma bala de avelã, eu cantava para eles, desfilava e queria atenção. Tinha um "tio" que era legal, ele devia ser o mais chegado mesmo, um senhor branco, magro com aquele cheiro de mato molhado e cigarro barato, pois eu convivi muito com ele, talvez por isso eu me lembre um pouco mais de suas feições; lembro até hoje que ele me ensinou a desenhar o símbolo do infinito, e adicionar mais infinitos ao mesmo desenho, em uma linha contínua. Mas esse cara era legal, como eu disse, talvez não tanto assim, mas isso é mais para frente. O outro, aquele idiota, era como a noite e grande como só ela sabe ser, ele não me dava trela, não me lembro de outros momentos com ele, apesar de eu achar que esse momento foi tão marcante que eu possa ter aniquilado todos os outros. Ele não me pegou à força, não, eu era exibida, queria agradar, e foi isso que eu fiz. Só me lembro dessa visão: os azulejos marrons e velho da parede do banheiro, eu ajoelhada, obediente, e ele com aquele pau escuro na minha cara dizendo "- Chupa tudo até sair leitinho, pra você crescer e ficar fortinha." Eu não sabia o que era aquilo, só sei que fazia ele feliz, eu estava agradando outra pessoa, de uma forma alternativa, mas eu não ligava. Eu o odeio por isso, não desejo que ele morra, não, só que tenha uma grave contusão, mas se ele fez isso com mais alguém, ai espero que o pau dele tenha sido mordido e arrancado por um cachorro. Como alguém pode abusar da inocência de uma criança dessa forma? é como usar a bondade para o mal, isso não se faz...Pois é, isso desencadeou uma série de distúrbios sexuais, mais isso foi só mais tarde. Eu não lembro, mas talvez por ele ter dito para eu não contar para a minha mãe, e ser o nosso segredinho, eu tenha achado normal, gostado do mal, por assim dizer, são fatos, você não sabe o quanto te faz mal até conhecer o que de fato você faz, e eu não conhecia.
Sinceramente, eu não sei o que deu em mim depois, é estranho não? uma criança gostar do mal, tá que eu era uma criança fora do normal, sabia coisas demais, em tempo curto demais, eu não era idiota, só me fingia, até hoje faço isso, é mais fácil quando as outras pessoas pensam que você é estúpida, o baque é maior. Como você pode ver, eu tenho um gostinho pelo mal, talvez por isso eu sempre tenha tentando ser muito boa, para compensar as coisas ruins que eu gostava de fazer. O que obviamente não presta, sempre me fascinou muito.

As lembranças se embaralham, mas eu vou por partes, não se preocupe, mirror, por tanto tempo eu não quis organizar isso em minha mente, e só deixava passar, sem ter vontade de analisar e juntar tudo de uma vez só, mas serei bem direta.

As coisas ficaram "normais" até a gente mudar de cidade, e ficar pobre. Pobre, não é ruim, veja bem, nesses casos ninguém se salva. Mas como sempre está tarde, meus posts são curtinhos, mas é que eu fico com tanto sono...como sempre a luxúria tem que vir junto com a preguiça.

Até logo meu querido mirror.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Começo

Começo de ano, não falam pra gente pensar na vida? pois é, com essa ausência do que fazer eu comecei a pensar na minha, engraçado como a gente revira e percebe que não lembra de tudo, e lembra daquilo que não deveria lembrar...hoje eu tenho 19 anos, não muito, mas o suficiente para iniciar aquela crise de existência. Sou muito ansiosa para acabar as coisas rápidos e ter resultados logo, mas creio que essas postagens vão demorar um pouco mais do que planejei, afinal, uma vida como a minha não se conta pulando os mínimos detalhes.


Eu não lembro do comecinho, sabe? aquele onde seu papai e sua mamãe se amavam e se casaram e tiveram você. Não, na verdade eu ACHO que meu pai e minha mãe se amavam, nas fotos antigas, onde ela com aquele cabelão anos 70 e ele com as costeletas loiras à mostra, eles parecem bem íntimos e apaixonados. Não faz muito que eu vizualisei de verdade a aparência jovem deles. Meu pai, lindo, como um ator de cinema italiano, e minha mãe, também linda, uma cintura da circunferência da palma da minha mão e um sorriso no meio de um rosto bem definido, branco, marcado pelas sobrancelhas escuras, olhos e cabelos castanhos, onde me encontro hoje no espelho. Lembro da minha mãe gordinha, e meu pai velho e magricela, como é até hoje.


Digamos que eles se amaram, tiveram meus irmãos, quatro menininhos, de cabelos loiros e olhos claros, a maioria, e depois, em um flash back bem mal sucedido, nasce eu, uma menina, tudo que eles queriam desde o começo, mas que nasceu quando tudo já havia acabado. Sério, até hoje duvido do fato de ser filha deles, se eu não fosse tão parecida com ela e com ele de certa forma. Mas sei lá, essa história foi muito mal contada. Ele batia nela, e até hoje eu não faço idéia do porquê. Dizem que ela "fazia" ele bater nela, não de uma forma fetichista, mas como se ela merecesse, mas consideremos minha família uma família alemã, de caráter patriarcal, pois é, acho que deu pra entender, pois eu não vejo motivos suficientes para um homem bater em uma mulher. Meu avô era ruim, ruim mesmo, mas nunca ouvi falar dele bater na minha avó.


Ninguém se preocupou muito em me explicar as coisas, nem mesmo ela. Enfim, eu nasci. É, uhul, legal..não, acho que não, uma criança dá muito trabalho, mas pelo o que parece eu fui o conforto da minha mãe. Eu lembro de nós sermos bem ricas, moravamos numa casa grande, com portões verdes e uma piscina nos fundo da casa. É a lembrança mais antiga de algo que eu posso chamar de vida, na verdade os fatos se misturam, mas eu vou tentar crônometrar as coisas, mas algo pode ficar solto no caminho, afinal, são apenas lembranças. Moravamos eu, ela e meu irmão, o último dos irmãos homens. A vida era fácil, meu quarto era cheio de pingo d'ouro, o salgadinho, espalhados pelo chão e com chupetinhas do "baby" da família dinossauro penduradas. Não faço idéia de quanto tempo ela já estava separada do meu pai, mas eu nunca havia visto ele, na época, e nem tinha esse tipo de noção. Ela tinha fazenda, não sei se era fazenda ou fazendas, mas a gente viajava bastante, escutando a Paraguaia Perla, o Beegees e Abba, visitavamos um monte de gente, que também tinham fazenda. Era assim, eu era inocente e espertinha.
E foi naquela casa, aquela merda de casa, que minha mãe desligada deixou que algo mexesse comigo por toda a vida...mas isso já é outra história, e eu estou cansada.
Como eu disse, esse é só o começo de uma longa história.

Mirror


Escreverei aqui todo o meu mal, ou pelo menos o que minha alma me diz que fiz de errado, escreverei toda minha história, que o tédio me força a relembrar, escreverei aqui todo o caos, todo o amor e toda a vitória. Não jugue os personagens, pois eu não o faço, sinto ódio, sinto raiva, sinto amor e confusão, mas não os julgo pelo que são, pois nem eu nem você somos santos, e a vida tira coisas de nós e nos transforma. Eis aqui tudo, quer você se importe ou não, quer você leia ou não, deixe de comentar ou não, eu não me importo, só preciso de uma porta para deixar escorrer o líquido que extravasa de lugares que só eu sei onde ficam.
Seja muito bem vindo, espelho.